O debate sobre a moderação de conteúdo digital pelas redes sociais está bastante aceso. No entando, o problema na China é maior devido à monitorização e censura do governo chinês.
Então, parece que chegou a altura de surgir uma solução para o problema destas plataformas que ofereça mais liberdade aos utilizadores.
Suji Yan, o fundador da tecnologia Dimension sediada em Xangai, pensa assim e quer revolucionar a indústria. O produto que criou, Mask (inicialmente Maskbook), é uma segunda camada Web 3.0 sobre a existente Web 2.0 que permite aos utilizadores enviar mensagens encriptadas, sem a vigilância do Twitter ou Facebook. Desta forma, apenas as pessoas que queremos vão conseguir vê-las.
Neste artigo vamos explorar como Yan está a fazer a ponte entre a Web 2.0 e a Web 3.0.
Movimento do Red Packet
Nascido na China, Yan foi um jornalista de investigação antes de se tornar engenheiro. Entre várias coisas, é conhecido por popularizar o movimento cross-dressing entre programadores da China, conhecidos como “homens em vestidos”. Embora se identifique como heterossexual e seja casado, Yan disse que o cross-dressing o ajudou a escrever um código livre de bugs.
Ele revelou o projeto Mask em janeiro de 2020. Logo a seguir, teve uma grande adesão com a chegada do ano novo chinês e do movimento “Twitter Red Packet 🧧” proporcionado com a criptomoeda MakerDAO. O movimento fez com que utilizadores da Mask pudessem ganhar DAI tokens no Twitter durante o Red Packet. Esta é uma forma tradicional dos chineses concederem bençãos durante o Ano Novo Chinês. Yan disse que o movimento aumentou o número de membros da DAI em 15%.
Gonna start an encrypted🧧 Red Packet campaign with @OKEx #OKB ecosystem today, Enjoy BTC Halving and 🔐🧧! #Maskbook #OKB #Halving https://t.co/9Zfu2FZ1yC
— Suji Yan (@suji_yan) May 11, 2020
Mais recentemente, com a chegada do halving da Bitcoin, Yan fez outro movimento do Red Packet com OKB, o token de troca da OKEx, uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo.
Os movimentos do Red Packet acabaram por ser uma espécie de Cavalo de Tróia. O objetivo era fazer mais do que simplesmente apresentar a Mask como um serviço de mensagens encriptadas.
“A nossa arma secreta é abrir as portas do mundo Web3 para toda a gente de forma descentralizada e sem custódias”, disse Yan. “Por isso, levar a Ethereum, IPFS, Dapps e até Cryptokitties para o Facebook sem que os utilizadores saiam da Web2.”
Isto é, o que a Mask pretende fazer é estender a carteira Ethereum a plataformas Web 2.0, o que permite que seja um gateway mais fácil de usar todos os tipos das Dapps da Web 3.0.
Construindo uma nova camada em cima da velha
No entanto, a ideia de construir aplicações Web3 em sites da Web2 parece contraditória. Se uma nova web fosse construída, porquê a preocupação de a construir sobre as plataformas existentes?
Para Yan, há dois benefícios em construir uma ponte, em vez de começar do zero.
Em primeiro lugar, acredita que as gigantes da tecnologia, como Facebook e Twitter, têm uma quantidade significativa de entraves e as pessoas não vão mudar facilmente. “Não acho que muitas possam deixar o Facebook para outras plataformas”, diz. “Por exemplo, é muito difícil persuadir os utilizadores a mudar para o Signal quando toda a gente está a usar o Whatsapp.”
Em segundo lugar, acredita que as grandes tecnologias vão continuar a dominar porque as gigantes vão continuar a comprar qualquer rede social em ascensão para evitar a concorrência. Tal como o que o Facebook fez com o Instagram ou Whatsapp.
A visão de Yan, apesar de ser nova, é semelhante à abordagem de “superaplicações” como Wechat e Alipay da China. Nestas plataformas os miniprogramas são colocados em cima da aplicação base de mensagens. A diferença aqui é que os miniprogramas são Dapps que podem ser descentralizadas e têm uma natureza antivigilância.
Ainda existe uma dependência grande nas infraestruturas técnicas e comerciais subjacentes. Isto é, se o Facebook caísse dum dia para o outro, onde se poderia utilizar a Mask?
Um cidadão a resolver um problema global
Antes de fundar a Dimension, Yan era um jornalista freelancer e investigava tópicos complicados e ocultados por governos, como a Usina Nuclear de Fukushima, no Japão. “Ao crescer na China, observei sempre com atenção o lado negro dos governos centralizados”, disse ela.
E essa perspectiva é o que a diferencia de outros fundadores da criptomoedas. Ele tem um interesse inato em estudar governos e sistemas, o que lhe fornece uma perspetiva sobre o que pode ser descentralizado e o que não pode. Isto manifesta-se no design exclusivo da Mask que pode ser construída em cima de uma rede centralizada.
“A ideia é corromper o sistema existente internamente, em vez de atacar de fora”, diz Yan.
Além de escritor e jornalista, Yan também foi a principal ativista da “Licença Anti-996”, que exige que as empresas proíbam horários de trabalho desumanos das 9h às 21h, seis dias por semana.
Quando questionado por que está a dedicar o seu tempo à construção de um produto que tem pouco a ver com a China, Yan disse: “Eu penso no Vitalik (Buterin, co-fundador de Ethereum). Ele é um canadense russo que pegou num protocolo japonês mas melhorou-o e, seguidamente, conseguiu angariar fundos na China através dum angel round. ”
Seguindo essa lógica, talvez Yan, nascido na China e residente em Xangai, possa conseguir um angel round com VCs nos Estados Unidos. A crypto é verdadeiramente global.
A Mask Network
A Mask funciona como uma extensão para navegadores baseados em Chromium, como o Chrome, Brave, Edge e Firefox, e facilita o acesso aos serviços da Web 3.0. Nos últimos meses têm lançado diferentes recursos para os utilizadores poderem apoiar diferentes causas nas redes sociais, como por exemplo a iniciativa Crypto for Black Lives.
A startup tem a sua sede em Xangai e foi lançada no início do ano passado. Inicialmente, a Mask era uma maneira simples de encriptar e partilhar mensagens nas redes sociais Twitter e Facebook. No entanto, o objetivo é construir uma ponte fácil de usar aplicações descentralizadas do mundo Web 3.0 mas na Web 2.0, por meio da extensão.
O próximo passo é oferecer aos utilizadores armazenamento descentralizado.
Agora a Mask Network já lançou novos widget para trocar de tokens com a integração da CoinMarketCap e Uniswap no Twitter. Agora, em vez de ir ao CMC para descobrir um novo token e, em seguida, negociar na Uniswap, os membros já podem passar o rato sobre qualquer “$+ticker”, como $ETH ou $UNI, e visualizar o preço do token – ou até mesmo comprar diretamente via Twitter.
1) Today we are thrilled to introduce a new version of #Mask with a trading widget powered by Uniswap & CMC. It will automatically pop up whenever your mouse hovers on a "$+ticker" like $ETH or $UNI. Users can now view token price and trade with Uniswap without leaving Twitter! pic.twitter.com/xJQsBNKdTS
— Mask Network(Mask.io) (@realmaskbook) September 24, 2020
E isto é apenas o começo. Agora a Mask iniciou o “Initial Twitter Offerings” para permitir que os utilizadores descubrir e comprar novos tokens, tudo por meio da sua extensão.
“Nosso objetivo final é descentralizar”, disse Yan. “É por isso que estamos a fazer ITO. A nossa visão nunca mudou: trazer a web descentralizada para a web atual.”
Um pacote de DeFi
“O widge de troca no Twitter é realmente apenas um passo para a Mask Network trazer todo o pacote da família DeFi para a web 2.0”, disse Taylor Zhang, membro da equipa principal da Mask Network.
“Estamos a compará-lo com as superaplicações chinesas, como WeChat Pay e Alipay, onde serviços financeiros são oferecidos em todos os lugares (mas sem a centralização). Acreditamos que a Mask Network pode trazer o melhor do DeFi – desde pagamentos, negociações, empréstimos, lançamentos, apostas e análise de portfólio – tudo dentro da interface das redes sociais existentes. ”
A Mask está a lançar uma ITO de forma a haver maior procura dela utilização da Web 3.0 sem sair do Twitter. E parece que vai haver também uma marketplace de NFTs para negociar tokens não fungíveis na extensão.
A equipa acredita que a maior parte do conteúdo digital na web, incluindo fotos, vídeos e artigos de texto, serão transformados em NFTs no futuro, e que serão armazenados em redes descentralizadas como IPFS. Por isso mesmo, a Mask acredita que há uma grande oportunidade de unir armazenamento descentralizado com pagamentos descentralizados.
“Acreditamos que as plataformas de e-commerce NFT nativas serão enormes e queremos que as pessoas negociem NFTs no Twitter usando a Mask Network”, disse Taylor.
Como primeira etapa, a Mask Network foi integrada à Arweave, uma rede de armazenamento descentralizada. Os membros podem enviar arquivos armazenados no Arweave para amigos via Twitter e Facebook. Parece que vai ser incrível.