Em resumo
- DeFi é um termo definido para caraterizar um grupo de aplicações financeiras construídas dentro da Ethereum.
- A ideia é permitir que qualquer pessoa com acesso à internet possa emprestar, pedir emprestado e fazer transações, sem a necessidade de intermediários.
- A DeFi é uma das áreas de crescimento mais rápido da blockchain e do ciberespaço descentralizado.
Atualmente, no mundo das finanças tradicionais, é um pequeno grupo de bancos centrais que controla a circulação monetária. Por isso, em conjunto com outras instituições financeiras e bancos menores, conseguem manter (ou aparentam manter) a economia mundial a funcionar. Este sistema financeiro funcionou, no geral, durante a maior parte do século. Porém, como se tem vindo a constatar, tem os seus limites e restrições. Mas o que é a DeFi e o que é que pode resolver em concreto?
Bom, no mundo civilizado, o acesso ao sistema financeiro deve ser um dos direitos mais básicos do ser humano. Contudo, ainda há cerca de 1,7 mil milhões de pessoas que não fazem parte desta rede monetária, por diversos motivos. Alguns deles são a necessidade duma morada permanente, um historial burocrático de crédito, ou até a falta duma infraestrutura bancária suficientemente confiável.
A tecnologia blockchain e, em particular, a DeFi, ou finanças descentralizadas (do inglês, Decentralized Finances), são uma possível solução para este obstáculo. Por exemplo, vão ajudar muitos daqueles que não tinham acesso fácil a contas bancárias, empréstimos e outros produtos.
A DeFi é o início dum novo sistema financeiro – um sistema financeiro global, público (permissionless) e nativo na internet. Será que se pode dizer que é a realização dum sonho de ter dinheiro programável? Vamos descobrir.
O que é a DeFi?
DeFi é um conceito que se define por sistemas de produtos financeiros livres, descentralizados, públicos e interligados.
Numa rede ou sistema público (permissionless), todo o trabalho de mineração de dados na blockchain é operado por nodes. Por exemplo, pelos próprios utilizadores da rede, podendo estes entrar e sair livremente no sistema, sem restrições.
Por outro lado, as redes privadas (permissioned), assentam na confiança entre as partes envolvidas, e conferem aos proprietários da rede a possibilidade de escolher os novos intervenientes. Estas últimas são frequentemente usadas no setor financeiro, porque é a forma de manter segurança e confiança no registo de dados.
Mas, na prática, a DeFi é como uma rede de Dapps (aplicações descentralizadas) e contratos inteligentes (smart contracts) baseada na tecnologia blockchain. A DeFi é construída na Ethereum e o foco tem sido sobretudo aplicações financeiras, como empréstimos, contratos mútuos, exchanges, trocas de tokens, etc.
Quem inventou a DeFi?
Não existe um único inventor da DeFi. Mas, as aplicações descentralizadas são construídas em cima da Ethereum, inventada por Vitalik Buterin. Atualmente, a maior e primeira grande aplicação da DeFi é MakerDAO, fundada por Rune Christensen.
O que há de tão especial na DeFi?
O entusiasmo em torno da DeFi deve-se ao conceito de “money Legos”. Ou seja, a ideia de que qualquer pessoa ser capaz de criar, modificar, misturar, combinar, ou construir em cima de qualquer produto descentralizado existente, sem a necessidade de permissão.
Portanto, os protocolos da DeFi são modulares e podem ser “empilhados” uns sobre os outros. Dessa forma, controem um sistema cada vez mais denso de redes interoperáveis.
Porém, esta necessidade de interdependência aberta e livre pode também ser a maior fraqueza da DeFi. Por exemplo, se um componente-chave como a DAI se tornar vulnerável ou corrompido, todo o ecossistema construído em torno da DAI pode entrar em colapso.
Mais coisas importantes a saber?
Além das Dapps poderem ser “empilhadas” umas sobre as outros de formas quase ilimitadas, abrem as portas do sistema financeiro a milhões de pessoas em todo o mundo.
A revolução da Bitcoin com a blockchain, permitiu criar sistemas de pagamento nos quais qualquer pessoa pode enviar dinheiro para qualquer outra pessoa no planeta. Agora, com a criação de aplicações DeFi, o acesso a produtos financeiros torna-se fácil e sem limites.
Por isso, aplicações construídas numa rede descentralizada, como a Ethereum, oferecem a qualquer pessoa com ligação à internet vários serviços como empréstimos, produtos financeiros complexos, reservas de valor estáveis (stable coins) e oportunidades para investimento ou negócios semelhantes de bancos.
Como as Dapps são simplesmente códigos programados e distribuídos na rede descentralizada, não podem ser desligados ou negados àqueles que os querem utilizar.
Porém, como acontece com qualquer nova tecnologia, alguns limites de acesso permanecem: ligação à internet segura, necessidade de eletricidade e gatekeepers de valor. Os últimos acabam por ser os intervenientes que oferecem serviços que permitem converter moedas fiduciárias em criptomoedas.
Como se criam aplicações DeFi?
Qualquer pessoa capaz de escrever contratos inteligentes, ou seja, umas linhas de código, é capaz de criar aplicações DeFi. A InstaDapp construiu um produto DeFi amplamente usado e que melhora a interface de utilizador por cima de Dapps existentes. Ao tornar o acesso à DeFi mais amigável e simplificado, a InstaDapp conseguiu causar uma onda enorme à volta de outras Dapps. Na altura conseguiram um investimento de €2 milhões – sem a necessidade de qualquer permissão financeira tradicional.
Como se usam os produtos DeFi?
Qualquer pessoa pode usar Dapps acedendo ao site de cada aplicação e ligando-se com uma carteira MetaMask ou alguma semelhante. A maioria das Dapps da DeFi não exige que os utilizadores se registem ou forneçam informações pessoais. Embora para pagar taxas de transações na Ethereum seja necessário obter ETH.
O que se pode fazer com a DeFi?
Pode-se pedir ou fazer empréstimos, ganhar juros sobre stablecoins, entre outros. Por exemplo, usando a aplicação Oasis da MakerDAO e a Compound. Além disso, os tokens e criptomoedas podem ser trocados sem registo ou inscrição na Uniswap e na Kyber. Por fim, também se pode comprar tokens que colocam ordens automaticamente usando a Set Protocol.
O futuro
A quantidade de ETH bloqueada em produtos da DeFi cresceu de cerca de 50.000 ETH no início de 2018 para quase 3.000.000 ETH no final de 2019. Atualmente ronda os 8.000.000 ETH! Há quem diga que foi apenas o início duma onda DeFi massiva. Os verdadeiros crentes argumentam que as vantagens dum sistema financeiro aberto e descentralizado são atraentes demais e vão capturar vários mil milhões de euros em valor. Outros argumentam que podem ter o perigo devido à facilidade de montar esquemas fraudulentos onde não há propriamente além que assegure o valor do token.